Conheça o consumidor do amanhã

Preocupado com o meio ambiente e disposto a escolher produtos e serviços de organizações com propósito, o cliente de 2030 tem a cara do cooperativismo

Farol Conteúdo
04/11/2022

Clara ainda é uma criança, mas é para ela que precisamos olhar se quisermos entender o futuro do cooperativismo. Criada em um mundo que pede respostas rápidas, com excesso de informações e uma preocupante crise ambiental, a menina crescerá exigente e consciente. Por isso, ela e as novas gerações de consumidores tenderão a dar preferência a produtos e serviços com impactos positivos no meio ambiente e na sociedade, aliados à agilidade prestada pelas novas tecnologias. E quanto mais personalizados aos seus hábitos e gostos forem esses produtos, melhor.

Mesmo nos dias de hoje, valores e objetivos pessoais não são mais os mesmos. Antes mesmo dos anos de distanciamento social por conta da covid-19, consumir deixou de ser apenas uma forma de possuir algo para se tornar uma oportunidade de viver novas experiências.

O que já está ditando o ritmo hoje, e que na próxima década ainda será mantido, é o comportamento do consumidor. Será o fator de sucesso para ligar a estratégia à cooperação. Tanto o mercado quanto o modelo cooperativista precisam estar atentos a características individuais, a características socioculturais do consumidor”, afirma Robson Cardoso, gerente do Núcleo de Inovação e Mercados do Sistema OCB.

Pesquisa da Euromonitor International sobre estilo de vida publicada pelo relatório 10 principais tendências globais de consumo, de 2022, aponta que entre 2015 e 2021 dobrou a quantidade de consumidores no mundo que priorizam o tempo para si mesmos: de 12% para 24%, ou seja, eles não têm tempo a perder na hora das compras. Os dados mostram também aumento de 30% para 40% daqueles que sentem ser capazes de fazer a diferença no mundo por meio de suas escolhas e ações. Para completar, 67% dos consumidores tentaram causar um impacto positivo no meio ambiente por meio de suas ações cotidianas em 2021.

A pesquisa também avaliou a experiência dos consumidores com os serviços on-line e mostrou que 57% deles acessam serviços bancários por meio de seus smartphones ao menos uma vez por semana. Além disso, entre 2017 e 2021, houve um crescimento global de vendas de 56% de aparelhos de realidade aumentada/ realidade virtual (AR/VR). Um indício de que o movimento metaverso será um novo impulso das vendas de produtos virtuais.
“Passamos a buscar online muitos produtos e serviços , mesmo que a gente vá comprar no físico. Essa relação entre o digital e o físico, online e offline, está se transformando. Agora, existe uma mistura maior desses, por isso as cooperativas precisam estar digital e fisicamente presentes na vida das pessoas”, explica Luísa Fedrizzi, diretora de Negócios e Tendências na Futures Units, uma das palestrantes da Semana de Competividade.

PROPÓSITO

Os millenials (nascidos na década de 1990)  e a geração Z (nascidos a partir do ano 2000) serão uma grande parcela dos consumidores do futuro. Eles acreditam poder fazer a diferença por meio de suas ações, com impactos mínimos sobre o clima e a sociedade. Esse novo consumidor estará em busca de marcas mais humanizadas, que lhe ofereça produtos e serviços de acordo com suas necessidades, de forma rápida e flexível.

Pesquisas mostram que quase 40% da população mundial são da geração Z e em 2030 serão 50%. Então, as necessidades e interação com esse público precisam ser feitas de formas diferentes do que viemos fazendo ao longo do tempo.

Por meio dos produtos que vier a comprar, o novo consumidor pressionará as empresas e marcas a se posicionarem em relação às causas em que acredita. Diferentemente do que acontecia até hoje, a lealdade à marca estará necessariamente ligada aos hábitos e propósito de vida do consumidor, que não hesitará em trocar de produto ou serviço se suas exigências não forem atendidas.

Iniciativas que apresentem e comprovem o compromisso de uma organização com a responsabilidade socioambiental, como produtos sustentáveis e com baixa emissão de carbono, ajudarão a conquistar esse consumidor. Afinal, por uma questão de sobrevivência, ele estará comprometido com o impacto que produz a cada vez que compra algo ou utiliza algum serviço.

Não estamos falando apenas da relação de consumo de bem. O mercado financeiro precisa ficar de olho da mesma forma. Existem hoje jovens que checam o perfil da instituição financeira para saber se ela tem viés social, modelo de governança, antes de guardar seu dinheiro”, diz Robson Cardoso, gerente do Núcleo de Inovação do Sistema OCB.

Pensando na preocupação das novas gerações com o valor social das empresas, o Secoop Goiás  lançou campanha para incentivar o consumo de produtos das cooperativas do estado. Como? Mostrando à população que os princípios do cooperativismo estão alinhados aos anseios deste novo consumidor.

A campanha, lançada no ano passado, usou como base estudos de consultorias sobre a perspectiva dos consumidores em relação à pandemia, mostrando que 48% dos millenials esperam que as empresas tomem iniciativas capazes de influenciar em mudanças durante crises, e que 85% dos brasileiros deverão ter como prioridade o meio ambiente no período pós-pandêmico.

“As cooperativas precisam mostrar que seus produtos têm valor social muito grande, pois geram trabalho e renda para quem produz, preservam o meio ambiente e ainda geram retorno para a comunidade”, explica o presidente do Sistema OCB/GO, Luís Alberto Pereira. 

Segundo Pereira, a campanha conseguiu mostrar à população as diferenças entre comprar um produto de uma empresa (pautada pelo lucro) e a de comprar  um produto feito pelo coop (priorizando as pessoas e a sustentabilidade).

Hoje, as pessoas procuram um propósito atrás de cada produto. E o cooperativismo mostra esse propósito nos seus princípios. A tendência é de que o consumidor do futuro não compre o produto apenas pelo preço, mas pelo valor que ele representa para a sociedade”, conclui.

Consciente dessa mudança do perfil do consumidor, o Sistema OCB lançou em 2019 o carimbo SomosCoop, que pode ser aplicado gratuitamente em produtos e serviços de cooperativas de todos os ramos. Objetivo? Mostrar ao consumidor que aquele item foi produzido dentro de uma coop e, portanto, está alinhado aos princípios e aos valores éticos e sustentáveis do nosso jeito diferente de fazer negócios. Mais que isso: o selo SomosCoop é uma garantia de que cada centavo pago pelo consumidor será revertido em  emprego, renda e oportunidades para milhares de pessoas. E que parte desses recursos será reinvestido, gerando um ciclo virtuoso de de desenvolvimento para toda a sociedade. 

PERSONALIZE

As experiências com produtos personalizados que tragam bem-estar pessoal é outra tendência de consumo de um mundo pós-pandemia. Neste contexto, o investimento em tecnologias de Inteligência Artificial (AI) que desenvolva soluções personalizadas mais sofisticadas é um diferencial, e uma oportunidade para que as empresas criem conexões profundas com seus clientes. 

Antigamente a preocupação era produzir um milhão de unidades da mesma coisa, hoje a tendência é que se produza um milhão de formas diferentes da mesma coisa, atendendo os desejos personalísticos do consumidor”, diz Remy Gorga, presidente do Sistema OCDF. 

Gorga defende que as cooperativas estejam atentas às necessidades de um mercado mais exigente e seletivo, pensando em produtos e serviços personalizados com a vantagem de ser produzidos por uma organização que possui princípios e valores.

“O consumidor dos produtos de cooperativas está nesse momento de transição rápida, bombardeado por uma gama enorme de produtos disponíveis nos grandes “atacarejos”, no e-commerce ou no mercado de bairro, cada vez mais utilizado. Penso que a melhor definição para esse consumidor é a volatilidade na escolha dos seus produtos, ficando um grande desafio para as cooperativas de conseguir fidelizar esses consumidores aos seus produtos”, acredita.

MULTICANAIS

O consumidor de amanhã terá como uma de suas preferências o atendimento híbrido (físico e virtual), que lhe proporcione um serviço da maneira que lhe for mais conveniente. Ter a empresa sempre à disposição será um diferencial, ao contrário do que era disponível para o cliente de “ontem”, acostumado com um atendimento físico, horário inflexível, prestado por um único canal.

“A conveniência virou fator de competitividade, as pessoas estão com pressa, não querendo mais esperar, querem ter ofertas customizadas para sua necessidade e por exemplo, ter a opção de conseguir comprar por um e-commerce sem a interação com ninguém. As nossas cooperativas precisam encontrar a dosagem, de acordo com o seu modelo de negócio, entre as experiências físicas e remotas”, analisa Luísa Fedrizzi, da Futures Units.

ESCOLHA CONSCIENTE

Caio Vinícius Chaves, 22 anos, é estudante de medicina, e, assim como os demais nascidos na geração Z, toma decisões de consumo baseadas em suas convicções pessoais. 

Ele escolheu investir e movimentar seu dinheiro por meio de uma cooperativa financeira por acreditar no compromisso dessas instituições com as pessoas. “É necessário propósito. Preciso saber que estou investindo em empresas e em iniciativas que se alinhem à minha orientação social, política e econômica”, diz.

As ações filantrópicas praticadas pela instituição — como um programa de inserção de jovens no mercado de trabalho e outro de inclusão digital de comunidades mais vulneráveis — foram fatores adicionais na decisão de Caio pela cooperativa. “Me sinto muito bem representada por ela e por seu Instituto, que promove uma série de projetos de responsabilidade social, provando seu compromisso com o desenvolvimento da comunidade”, explica.

Caio argumenta que, ao contrário dos bancos tradicionais, as cooperativas sempre priorizaram os ganhos coletivos acima dos ganhos individuais. Além disso, segundo ele, a renda fixa da cooperativa remunera bem acima do mercado e, no final do ano, os correntistas ainda recebem participação nos resultados (sobras).

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COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA PARA IMPULSIONAR SUA COOP

Marcelo Minutti

Marcelo Minutti, professor, empreendedor e pesquisador da área de inovação, afirma que as cooperativas devem considerar as novas tendências de consumo em suas estratégias de comunicação. Ele destaca duas principais mudanças de comportamento do consumidor que impactam as cooperativas: a busca pela conexão com marcas que respondam às crenças pessoais e a procura cada vez maior pela sensação de pertencimento a algo. 

Quando se fala de cooperativismo tem tudo a ver: a sensação de pertencimento, da formação de comunidade, e tem uma atuação muito forte na sociedade com crenças e valores e bandeiras muito claras”, explica. “Quando ela (cooperativa) coloca essas crenças e valores na sua comunicação, ela tem que praticar as bandeiras que ela afirma defender. Isso gera uma conexão com o consumidor mais profunda, de transparência e confiança.”

Minutti lembra que, embora exista hoje uma oferta variada de canais digitais que podem ajudar a divulgar o seu negócio para o maior número de pessoas possível, é importante que as cooperativas utilizem essas ferramentas com estratégia de impacto local. 

É preciso efetivamente usar o ambiente digital para criar conexões legítimas com esse público. Quando você só repete uma mensagem, sem conectar com as necessidades do público, acaba não gerando resultados. A resposta é: alinhe a sua estratégia de comunicação às necessidades reais do público com o qual você quer criar uma ponte de relacionamento e se comunicar”.

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Melhor idade digital

Enquanto estavam confinados na pandemia, eles foram obrigados a se adaptar ao mundo digital, e se familiarizar com as ferramentas tecnológicas. Segundo a Euromonitor International, 45% dos consumidores com 60 anos ou mais usaram um serviço bancário no celular pelo menos uma vez por semana no ano passado.

É importante lembrar que a população com mais de 60 anos irá mais do que dobrar nos próximos anos. Em 2040, terá aumentado em 65%, chegando a 2 bilhões de habitantes no mundo. Segundo dados do IBGE, 40% da população brasileira terá 60 anos ou mais em 2100. Além disso, é o grupo que se enquadra entre as maiores faixas de renda de consumo.

“A otimização de aplicativos móveis, redes sociais e sites para idosos digitais será fundamental para capturar seu poder de compra. Tecnologia fácil de usar e soluções contínuas combinadas com comunicação frente a frente definirão o futuro da inclusão digital para idosos. Construir um plano ágil direcionado tanto para idosos digitais quanto para idosos novatos na área aumentará o retorno sobre o investimento”, diz o estudo.

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ENTENDA DE UMA VEZ POR TODAS AS MUDANÇAS DE COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR CONSUMIDOR DE ONTEM

ANTÔNIO

60 ANOS

FUNCIONÁRIO PÚBLICO APOSENTADO

GERAÇÃO BABY BOOMERS

É UM CONSUMIDOR QUE:

  • É atendido presencialmente, em lojas físicas
  • Consome através de apenas um canal
  • Adequado a horários inflexíveis para comprar e utilizar serviços
  • Compra por impulso ou guiado pelo menor preço 
  • Não se preocupa com a origem do produto
  • Indiferente ao valor social da empresa
  • Não busca novas experiências

CONSUMIDOR DE HOJE

BIANCA

42 ANOS

ADVOGADA

GERAÇÃO X

É UMA CONSUMIDORA QUE:

  • Procura saber a origem dos produtos e serviços
  • Prioriza produção com responsabilidade socioambiental
  • Consome alimentos mais saudáveis e menos processados
  • Exige que a empresa esteja sempre disponível em diferentes canais
  • Gosta de ofertas customizadas para suas necessidades
  • Quer ter a opção de comprar via e-commerce
  • Pensa em consumir algo que tenha um propósito por trás do produto
  • Mobilidade nas relações de consumo ?
  • Troca o “possuir algo” para “ter experiências”

CONSUMIDOR DO AMANHÃ

CLARA

23 ANOS (a serem completados em 2030)

DESENVOLVEDORA DE APPS

GERAÇÃO Z 

É UMA CONSUMIDORA QUE:

  • Espera gerar um impacto mínimo no clima
  • Se interessa pelo valor social da entidade produtora
  • Confia em marcas que se mostrem humanizadas
  • Busca produtos e serviços personalizados
  • Tem interesse pelo metaverso
  • Aprecia o equilíbrio entre vida pessoal e profissional
  • Deseja comodidade e agilidade no acesso aos produtos e serviços
  • Procura um propósito para consumir ? ou consumir com propósito?
  • Exige ação e transparência das marcas
  • Também procura por formas alternativas de pagamento (criptomoeda)
  • Prefere aplicativos de gerenciamento financeiro digeríveis, educacionais e

simples

  • Troca o “possuir algo” para “ter experiências” (igual ao anterior)

Maior adesão pela venda reversa (recommerce) que nada mais é que a compra e venda online de produtos de segunda mão.


Esta matéria foi escrita por Janaína Camelo e está publicada na Edição 39 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


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