Celeiro da inovação

Metade da produção brasileira de alimentos passa por uma cooperativa, e esse percentual deve aumentar ainda mais graças ao DNA inovador do nosso movimento

Farol Conteúdo
11/04/2022

Mapear a condição do solo, prever a temperatura, selecionar, plantar as sementes, adubar a terra, aplicar defensivos, enfim, colher. Da semeadura à colheita, são várias as etapas do processo de cultivo de alimentos e outros produtos essenciais para a sociedade. E para cada passo dessa jornada existe uma startup ou empresa capaz de auxiliar o pequeno, médio e grande produtor rural a gastar menos e a produzir mais — com o mínimo de impacto ambiental e o máximo de valor socioeconômico possível.

O agro é composto pelo antes da porteira e pelo elo de distribuição. Então, quando falamos do digital no agro, são muitas oportunidades, desde contratos que podem ser assinados pelo computador até o uso de drones para controlar pragas. É um universo muito grande nessa cadeia produtiva, dentro da qual as cooperativas têm um papel muito forte. ”, comentou Marcos Fava, autor e organizador de mais de 67 livros sobre agronegócios, conhecido na internet pelo pseudônimo de “Doutor Agro”. 

Para se ter uma ideia do impacto do cooperativismo no agro, cerca de 50% da produção alimentícia brasileira passa por uma cooperativa, segundo Fava. E com a adoção de novas tecnologias e incorporação de processos inovadores, o cooperativismo agro tende a aumentar seu protagonismo na produção nacional.

DO ARADO PARA TECNOLOGIA EMBARCADA

Com a presença das novas tecnologias  no campo, a agricultura, de fato, mudou. Essa é a percepção de milhares de produtores rurais de todo o país. Gente como João Francisco, 59 anos, engenheiro agrônomo e produtor rural do município de Guaíra, no interior do Paraná.

A vocação de João para a agricultura vem de sua família, uma das pioneiras na abertura de terras para plantio na região oeste do Paraná, na década de 60. Ele está no campo há pelo menos 38 anos. 

Começamos arando com boi, e hoje tem trator que anda sozinho. Estamos com bastante tecnologia embarcada nas máquinas. Tem colheitadeira que liga o sinal do GPS e vai sozinha. Aí, quando chega no final da plantação, você vira o volante para ela continuar sozinha. Não tem limite”, conta o produtor.

No verão, João produz soja; e no período do inverno, alterna para milho, aveia e outras culturas. Há mais ou menos 30 anos, começou a utilizar a técnica do plantio direto — prática tradicional que revolucionou a agricultura brasileira ao mudar o manejo do solo para causar menor impacto e gerar maior produtividade.

O plantio direto abriu caminho para incorporação de outras práticas inovadoras na produção. Nos últimos 20 anos, a propriedade foi transformada pela introdução de novas tecnologias desenvolvidas por startups e diferentes empresas.

“Eu tenho máquina de aplicar corretivo de solo, com taxa variável, há 10 anos. Quando saíram as primeiras máquinas, a gente adquiriu uma.  A economia com calcário, gesso e fósforo foi tão grande que e, no primeiro ano, a máquina já se pagou”, relata.

A INOVAÇÃO ESTÁ NO PRODUTOR

Para o professor da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-EAESP), Leandro Guissoni; toda essa disrupção no mercado do agro não é causada pelas novas tecnologias e startups, mas pelo próprio produtor, que decidiu inovar e adotar as novas ferramentas.

Na propriedade de João Francisco, por exemplo, a incorporação em campo do novo maquinário e de métodos ágeis de planejamento rendeu aumento significativo nos resultados.

Em 20 anos, a gente dobrou a produtividade da soja e triplicou a de milho”, comemora o produtor.

Além da maior eficiência na gestão e da redução de custo, o professor Fava destaca outras características do agro digital que agregam valor ao agronegócio, como segurança, conhecimento, transparência, valor social, melhoria na comunicação, gestão e adoção de um comércio mais desregulamentado.

Mas para extrair todas essas vantagens, a recomendação do especialista é seguir um planejamento estruturado, que passa pela busca de ajuda e conhecimento, entre outros pontos.  “Quem quer se transformar deve mudar a mentalidade para o digital, fazer diagnóstico, formar opinião com casos existentes”, sugere o especialista.

INOVAÇÃO COLABORATIVA

Crédito: Revista Agrícola

João Francisco não alavancou sozinho a produtividade de sua propriedade. Em todo esse processo de modernização, ele contou com o apoio  da Integrada Cooperativa Agroindustrial, da qual é cooperado e vice-presidente. 

A Integrada carrega a cultura da inovação desde suas origens. Iniciamos um novo ciclo estratégico onde a inovação é, mais uma vez, um ponto chave para o salto que estamos buscando. Trabalhamos com inovação aberta, estimulando nossos colaboradores e cooperados a buscarem parcerias com startups e empresas de consultoria para o desenvolvimento de soluções”, comenta André Galletti, gerente de planejamento estratégico da Integrada.

Com o objetivo de estreitar laços com startups inovadoras, a cooperativa desenvolveu o programa Conexão Integrada e firmou parcerias com hubs de inovação, como o Agtech Garage, que tem mais de 800 startups conectadas e disponíveis para atuar em parcerias com cooperativas ou outras empresas.

Outro hub parceiro é o Cocriago, que está em fase de implementação e atuará dentro do parque tecnológico SR Valley, mantido pela Sociedade Rural do Paraná, em Londrina.

FUNIL DA INOVAÇÃO

Antes de validar um produto ou uma solução, a Integrada passa os projetos que recebe de empresas e startups por um funil de inovação , que seleciona aquelas capazes de gerar valor para o cooperado.

Para nós, inovação na propriedade rural é tudo o que permite o aumento da produtividade e rentabilidade para o nosso cooperado. E a transformação digital é o caminho que a gente busca para essa geração de valor”, explica Galletti.

Segundo o gerente, a cooperativa chegou a tocar quase 30 projetos junto com startups e empresas para validação de produtos e geração de valor. O trabalho realizado pelas parceiras abrange, por exemplo, coleta de dados no campo, monitoramento da temperatura, do vento, do nível de chuva, monitoramento remoto por imagens, telemetria, conversão de sinal, entre outras atividades.

André Galletti, gerente de planejamento estratégico da Integrada.

“Isso tudo com empresas diferentes, startups diferentes. Quem faz a telemetria é uma startup A, quem coleta sensor uma startup B, quem monitora o processo de previsão de produtividade por talhão é outra independente”, ressalta Galletti.

O QUE VEM PELA FRENTE

O desafio atual da Integrada é driblar os entraves de conectividade, ainda baixa no campo, e disponibilizar de forma agregada ao produtor todos os dados gerados em cada uma dessas etapas. A expectativa é desenvolver uma ferramenta onde ficarão concentrados todo o volume de informação gerada pelas tecnologias.

Na Integrada temos um big data bem estruturado, muita coleta de informação, mas com a preocupação de fazer toda essa base de dados realmente servir para tomada de decisão do cooperado, que permita aumento da produtividade. Temos sistemas, plataformas, estrutura, mas se eu não tenho a tomada de decisão associada a essa tecnologia, eu não consigo ter a geração de valor que queremos. Então, o nosso papel é fazer a coleta e ter essa informação rápida e ágil na mão do cooperado, agrônomos e técnicos que acompanham a propriedade” explica Galletti.

A cooperativa também tem investido em inteligência artificial, com o desenvolvimento de robôs e máquinas para agilizar a análise da base de dados. A estrutura tem sido projetada para gerar alertas customizados que serão enviados diretamente a cada cooperado com as informações de interesse. As notificações serão personalizadas considerando as características da propriedade rural e as metas de produtividade e rentabilidade.

“Nossa estratégia é investir em inteligência artificial e buscar padronizações para acelerar o processo de tomada de decisão do produtor ou do técnico”, comenta Galletti.

O próximo passo é ampliar o uso de produtos da biotecnologia, como inoculantes para soja e milho, além de outras ferramentas biológicas para controle de pragas. 

“Muitos produtores ainda não usam nada. Mas dá um ganho de produtividade muito expressivo com baixo investimento. E vai ao encontro do que a gente acha que é correto, que é sustentabilidade econômica, ambiental e social”, disse o gerente da cooperativa.


Esta matéria foi escrita por Débora Brito e está publicada na Edição 36 da revista Saber Cooperar. Baixe aqui a íntegra da publicação


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